A villa da Horta da Torre: padrões de mudança


O concelho de Fronteira apresenta um total de 56 sítios romanos identificados para uma superfície total de 248km2 (Carneiro 2004). Um total de 7 são caracterizados como villae (1/35 km2) em função de um conjunto de evidências de superfície, sendo que 4 se localizam no canto nordeste do concelho, na freguesia de Cabeço de Vide (Carneiro 2014 II: 249-282). Esta concentração explica-se pela passagem de um itinerário de principal importância, a provável via XIV, ao longo da qual existe um “cordão” de grandes villae da qual a Horta da Torre faz parte. 

Depois da primeira limpeza, em 2012

Refira-se de modo resumido que na Horta da Torre a área de escavação iniciou-se em torno de uma estrutura visível à superfície e denominada pela população local como a Torre, devido ao seu formato semi-circular. A intervenção permitiu documentar que se trata de uma dupla abside que coroa uma sala monumental provida de um stibadium. 

Por trás deste dispositivo, na parede que forma a abside interna, existe uma comporta que permite a entrada controlada de água, motivo pelo qual a sala tem o pavimento inteiramente revestido a opus signinum. A união do pavimento à parede é feita com um friso de placas de mármore, e no lanço superior do alçado existiriam painéis em mosaico multicolor com figurações de plantas aquáticas. O tema da água, ou a concepção de espaços de tipo ninfeu, é uma marca comum a outras villae nesta área lusitana, procurando a fusão entre as paisagens naturais e os ambientes construídos.


A sala abre para um peristilo de grandes dimensões (ainda não inteiramente escavado) com colunas e um lanço de condutas e estruturas em exedra para a circulação de água em torno do que seria um aprazível jardim. Separados por um muro, temos a sul da sala um pequeno peristilo com cubiculae em torno de um impluvium alimentado por uma fonte.

A escavação da sala do stibadium foi iniciada com o pressuposto de que esta seria a zona central da pars urbana da villa, que por ação de destruições intencionais e da prática agrícola estaria severamente arrasada. Todavia, em 2018 foram feitas prospecções com georadar em todo a propriedade, no âmbito da Fronteira Landscape Project em colaboração com a Leiden University (Holanda). Os resultados foram surpreendentes (Carneiro, García Sanchez, Stek, Kalkers, 2019), pois as estruturas no subsolo organizam-se por mais de dois hectares, encontrando-se a sala do stibadium em posição descentrada e periférica face a um extenso pátio que é antecedido por um outro, mais pequeno. O conjunto edificado da villa prolonga-se ainda para as propriedades vizinhas, pois encontra-se uma abside isolada a cerca de 200 metros da área de escavação, e entre esta e o itinerário da via situa-se uma necrópole.