A villa romana da Horta da Torre como exemplo da transformação do sistema clássico de paisagem rural

 


A villa romana da Horta da Torre (Cabeço de Vide, Fronteira) tem sido objecto de campanhas anuais de escavação em curso desde 2012. Os resultados são surpreendentes e relevantes, permitindo identificar uma grande sala áulica que atinge o seu floruit durante o século IV. No entanto, pouco tempo após o seu abandono, o espaço irá ser reocupado de forma completamente distinta. 

Com escavações planificadas e mais rigorosas do ponto de vista metodológico, mais casos semelhantes têm vindo a ser detectados, mostrando a forma como no espaço de poucas gerações os modos de habitar no campo se alteram de modo significativo. Com outros exemplos convocados, discute-se como os perfis de ocupação e de povoamento se alteram ao longo dos séculos V e VI, provocando a transformação do sistema clássico da paisagem rural. 

Recuperou-se um conjunto de dados que subsistiram mesmo após intervenções arqueológicas prévias, que tinham atingido cotas inferiores em mais de 30cm, procurando os pavimentos augustanos, de acordo com o então prevalecente paradigma mussoliniano.



A partir desta icónica intervenção, os processos de registo e escavação deixaram de estar unicamente focados na identificação de estruturas e na recolha de materiais: com a devida atenção e protocolo, procuram-se as reutilizações, reestruturações, associações contextuais, marcas de uso, os níveis de acumulação, despejo ou as remoções, recuperando as evidências ténues que uma escavação tradicional não detecta. Importa assinalar não só o óbvio mas entender processos, apurando-se a leitura interpretativa que passa a procurar perceber as “Arqueologias das Transformações” - assim mesmo, no plural - enunciadas por Neil Christie (2018: Xii), que demonstram toda a riqueza informativa que a sucessão de presenças (por vezes em  tempos curtos) no espaço pode conter.